sexta-feira, 20 de abril de 2012

Esquecer na calçada, nunca na sarjeta!


Um dia para esquecer. Só um dia para esquecer. Um dia, apenas. Eu vou acordar e esquecer, um dia. O reflexo no espelho ainda é meu, eu ainda não esqueci. Não, eu apenas comecei a esquecer. Sair da cama. Lavar o rosto, o meu rosto, o que ainda é meu. Eu coloco a roupa e saio para a rua. Eu caminho, caminho, caminho e caminho até me perder, mas eu ainda lembro... Eu sinto... dor. Os meus pés doem, eu me esqueci de colocar os sapatos, eu esqueci. Onde? Eu não sei mais onde estou. Não, eu me lembrei! Vire à esquerda, sempre à esquerda! Eu caminho, caminho, caminho e caminho até chegar no fim... do caminho? O fim? Moço, aonde fica o fim? É aqui que acaba? É aqui onde tudo acaba? O meus pés, eles doem e sangram. Sim, uma mistura de piche e sangue. Eu sento numa calçada, não na sarjeta. Nunca na sarjeta! Na calçada eu balanço as minhas pernas e olho para os meus dedos dos pés... Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar... Eu me lembro disso, eu ainda me lembro. Eu ainda me lembro de muita coisa. Deitei. Na calçada, nunca na sarjeta! Eu olho para o alto e vejo o azul do céu por entre os galhos de um Flamboyant. Vermelho, não amarelo. Vermelho! Eu estico os meus braços em direção ao céu, eu quero tocar o azul do céu, eu subo na árvore, eu me estico até o último galho, bem lá no alto eu estico o corpo todo, a mão, os dedos... eu fecho os olhos e agarro o céu! Eu me esqueci... ou me lembrei... de como se faz para agarrar o céu. É assim que se esquece, a gente lembra de coisas novas e as velhas a gente esquece, sem querer. Sempre sem querer, porque não se esquece quando se quer esquecer, nunca. Vermelho. Eu sei que ainda lembro, mas agora tudo é vermelho, por isso eu esqueço. De tudo eu me esqueço. Na calçada, nunca na sarjeta!




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