quinta-feira, 21 de abril de 2011

Série Ecos - No.8 - Ecoando Charles Baudelaire

A SERPENTE QUE DANÇA

Que eu te amo ver, lânguida amante,
    Do corpo que excele
Como um tecido vacilante,
    Transluzir a pele!

Sobre o teu cabelo profundo
     De acre, perfumado,
mar odorante e vagabundo,
     Moreno e azulado,

Como um navio que desponta,
     Ao vento matutino
Em sonho minha alma se apronta,
     Para um céu sem destino.

Nos teus olhos ninguém lobriga
     Doçura ou martírio,
São jóias frias que são liga
     De ouro e letargírio.

Ao ver teu corpo que balança,
     Bela de exaustão,
Dir-se-ia serpente que dança
     Em torno de um bastão.

Todos os ócios com certeza
     Tua fronte movem
Que passeia com a moleza
     De elefante jovem,

E o teu corpo se alonga e pende
     Tal nave se mágoas,
Que as margens deixa e após estende
     Suas vergas na água.

Onda crescida da fusão
     De gelos frementes
Se a água de tua boca então
     Alcança os teus dentes,

Bebo uma taça rubra e cheia
     Muita amarga e calma,
Um líquido céu que semeia
     Astros em minha alma!

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