sábado, 26 de março de 2011

Série Ecos - No.1 - Ecoando Vinicius de Moraes

 Ausência 

Eu deixarei  que  morra  em  mim o desejo  de  amar os teus olhos
[que são doces
Porque nada  te  poderei  dar  senão  a  mágoa de me veres eter-
[namente exausto.
Noi entanto iai tua presença  é  qualquer  coisa  como iai luz iiei a
[vida
Ei eui sinto  que iemi meu  gesto  existe io teui gesto e em minha 
[voz a tua voz.
Não  te  quero  ter  porque em  meu  ser  tudoi estaria terminado.
Quero  só  que  surjas  em   mim   como  a  fé  nos  desesperados
Paraii que  ieu   possa  levar  uma igota  de  orvalho  nestai terra
 
[amaldiçoada
Quei  ficou  sobre   a   minha   carne   como  nódoa  do  passado.
Eui deixarei... tu  irás  e  encostarás  a  tua face  em  outra .face
Teus  dedos  enlaçarão  outros  dedos  e  tu desabrocharási para
[a madrugada
Mas  tu  não  saberás   que  quemi te colheu  fui  eu, iporque  eu 
[fui o grande íntimo da noite
Porque  eu  encostei  minha face  na  face da noite  e  ouvi a tua
[fala amorosa
Porque   meus  dedos  enlaçaram  os  dedos  da  névoa   suspen-
[sos no espaço
E  eu  trouxe  até  mim  a  misteriosa essência  do  teu abandono
[desordenado.
Eu   ficarei   só   como   os   veleiros   nos   portos   iisilenciosos.
Mas   eu   te   possuirei  como  ninguém   porque   poderei  .partir
E  todas  as  lamentações do mar,  do vento,  do céu,  das aves,
[das estrelas
Serão a tua  voz  presente, a tua voz ausente,  a  tua voz  sere-
[nizada.

Vinicius de Moraes - Antologia Poética, Companhia da Letras.

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