sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Atendendo a pedidos

Coisa louca esse tempo, né? Num dia faz sol e calor infernal, e no outro chove e faz frio. E ainda mais no Rio de Janeiro! Loucura... Começo de conversa bem meia boca, eu sei... mas é verdade, e é graças a esse tempo louco que fiquei doente, e por isso tenho tempo de ficar na cama pensando num monte de coisas que venho negligenciando. E qual é a negligência? Bem, isso é difícil de explicar, mas posso dizer que evitei pensar em certas coisas por um tempo, assim ficava mais fácil passar pelos dias. Todo mundo faz isso, se engaja em alguma atividade só pra poder parar de pensar naquilo que mais perturba. O problema é que cedo ou tarde alguma coisa te faz lembrar daqueles pensamentos, daí temos duas escolhas, confrontá-los ou tomar novas medidas paliativas para esquecê-los.

Dessa vez foi um poema do Drummond e uma frase que ouvi que me fizeram despertar. Vamos começar pela frase, que é a seguinte: Com o tempo vamos criando defesas como uma fortaleza, assim nada de ruim consegue nos atingir, mas como consequência nos fechamos para as coisas boas também. Mas a pior parte de viver nessa fortaleza é que os fantasmas que nos atormentavam antes não conseguem sair. A única maneira de mandar os fantasmas embora é derrubar os muros, mas daí temos que correr o risco de novamente deixar o mundo entrar. A metáfora é bem clara, mas eu nunca tinha pensado na última parte. Que se fechar por medo de sofrer também impede as pessoas de aproveitarem as coisas boas da vida, isso não é nenhuma novidade, eu tenho uma vida inteira de experiência nesse campo, mas a parte de que "os fantasmas" que já estava com você também não conseguem desaparecer, eu nunca havia me dado conta disso. Não é nenhuma epifania, é apenas um ato de consciência de algo muito óbvio, mas que não era tão fácil de enxergar ou de admitir.

Agora vamos a poesia do Carlos Drummond de Andrade:

A hora do cansaço
1984 - CORPO

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Sempre me surpreendo lendo Poesia. Num dia ela é apenas uma composição poética, num outro essas poucas palavras despertam alguma coisa pedida dentro de nós. O mais surpreendente da Poesia é que ela desperta diferentes sensações dependendo de quem a lê. Se para você A hora do cansaço não diz nada, tudo bem, vai dar uma volta e vive mais um pouco, deixa para ler o que eu vou escrever daqui pra frente um outro dia. Agora, se por acaso alguma coisa se acendeu aí dentro do seu peito, continue aqui comigo. 




































Pense bem antes de continuar.
(Por favor, tente ver isso como uma boa experiência.)









































Pensou? Tem certeza? Mesmo?
(Não tenho a intensão de ser melancólica. Por isso, sorria!)












































Bem, se você teve paciência de continuar até aqui é porque você quer realmente saber o que eu quero dizer. Ou não, talvez a poesia não tenha significado nada pra você, mas essa minha brincadeira pode ter te deixado com ainda mais curiosidade pra saber qual é o grande mistério, ou por pura teimosia você resolveu continuar. Além do mais, ninguém vai saber que você leu. Certo? Que mal faz saber significado que essa poesia tem pra mim? Eu diria que não faz mal nenhum, quase nenhum. Afinal de contas, as interpretações de poesias são pessoais, e se identificar com o sentimento dos outros é algo difícil de se fazer, ter empatia pelos problemas dos outros é algo muito complexo, completamente arcaico hoje em dia. Quase ninguém tem vocação pra esse tipo de coisa, porque tem que ter vocação, sabe? Sabe, esse tal de altruísmo? Porque eu já vou avisando... uma coisa leva a outra. Você corre o risco de ter que pensar no que eu penso, ou de sentir as coisas do jeito que eu sinto, uma merda... Ou não, você também pode continuar não sentindo absolutamente nada, e daí fica tudo numa boa. O risco existe, e ele é todo seu. Bem, chega de enrolação. Então, vamos lá?

Então, antes de mais nada, preciso fazer mais um adendo com relação aquela frase lá do início da mensagem. E também pedir desculpas, porque não tenho a menor intensão de falar sobre a poesia aqui. O propósito deste post é exatamente tentar "quebrar os muros". Tudo isso é um experimento para ver se eu consigo algum tipo de empatia, eu queria ver se eu consigo acender alguma faísca de sentimento nas pessoas. Eu queria saber se existe vida aí fora, mas eu não posso fazer tudo sozinha, não acho justo. Eu estou abrindo uma brecha, mas isso não depende só de mim. Se existe alguém aí fora que queira, que precise falar, sobre o significado daquela poesia, ou não só sobre ela, eu estou aqui pronta pra falar. Não existe ato maior de altruísmo do que libertar alguém, mesmo que seja com as palavras que essa pessoa precisa ouvir (e nem sempre quer ouvir).

P.S.: Eu desabilitei os comentários das postagens do blog, porque percebi que o objetivo dele não era receber comentários, mas sim despertar alguma coisa nas pessoas. Comentários são efêmeros demais para corresponder aos meus objetivos.  Em caso de alguma coisa realmente despertar em você, então entre em contato da maneira que quiser, pode ser e-mail, msn, telefone, ou pode bater aqui na porta de casa mesmo, sinta-se a vontade. Caso nada desperte em você, ou você não quiser entrar em contato, então eu vou saber, ou interpretar à minha maneira o que você pensa, ou talvez sente.

P.P.S.: Antes que comecem as suposições. Não, esse post não é endereçado a ninguém específico. Eu acordei febril, doente, cansada, e pensei que está na hora de sair da fortaleza. Pode ser um delírio, ou um ato desesperado de tentar colocar os pingos dos devidos i's. Na verdade, eu percebi que no fim, nada de bom eu consegui aqui dentro da minha fortaleza, eu só me escondi de tudo. E quem sabe existam outras pessoas tão infelizes quanto eu em suas próprias fortalezas, que estão esperando por alguém só pra conversar, ou quem sabe pra tentar resgatá-las de lá.