domingo, 31 de outubro de 2010

"Felice"

Nesta madrugada triste e silenciosa de domingo encontrei bons momentos na companhia do filme Io sonno l'amore. Eu só consigo descrevê-lo como poesia em movimento. Acredito que não seja o tipo de filme que não vá agradar a todos, mas definitivamente cativa quem ama as coisas simples da vida. O poder do olhar, a força da música, da alegria, da tristeza, da ironia da vida. Ainda sinto que tenho muito a pensar sobre este filme, pois todo ele conduz a um mar de pensamentos. Por isso, trago apenas um pequeno fragmento deste, em que a seguinte frase é dita: "Felice" non si dice perché è una parola che immalinconisce. Não creio que a tradução da frase consiga expressar todo o significado que esta representa, mas o sentido pode ser compreendido pelo contexto.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ser ou não ser, eis a questão

Num mundo em que as pessoas não se olham mais nos olhos. Onde quem não tem no mínimo duas caras não consegue mais sobreviver. E principalmente, num mundo onde estamos rodeados de terrores e medos. Se envolver se tornou impossível. Sem falar que isso, se envolver, também se tornou uma tarefa obsoleta. Hoje em dia as pessoas só mantém um relacionamento com os seus iphone, ipod, ipad, ou qualquer outro i-qualquer-que-seja. Nem se precisa ser da Apple não, pode ser Nokia, Motorola, Sony, etc., basta ter alguma coisa útil para praticar a Arte de se isolar.

Eu experimentei olhar para as pessoas e tentar interagir com elas. Resultado: Me ignoraram. Óbvio, quem é essa inconveniente que puxa assunto assim do nada? Quem é essa psicopata que fica encarando os outros no metrô? Ou melhor, quem é essa louca que sorri sozinha? É, essa sou eu. Mas não se preocupem, depois disso eu coloquei os fones de ouvido e passei a fazer o que todo mundo faz, se isolar. Daí eles começaram até a gostar de mim.

Se eu sou sincera, eu assusto. Se eu finjo em prol da boa convivência, eu não estou sendo verdadeira com os outros e nem comigo mesma. Se eu tento ser eu mesma, eu fico vulnerável. Se eu interpreto um papel, há quem goste de mim, mas há também quem me condene por isso. Mentirosa, manipuladora, falsa, duas caras, perturbada! Eu diria confusa. Só o que eu queria era ser aceita. O meu problema é querer demais.

Houve uma época em que eu não me preocupava em ser quem eu sou, mas daí alguém me disse: "Você é assim toda perfeitinha. Gosta de fazer tudo bonitinho, de deixar tudo arrumadinho.... você compra uma caneta vermelha especial só para corrigir as avaliações dos teus alunos... é tudo perfeito demais. Não dá pra competir. Não dá pra encarar." Por inocência, ou burrice mesmo, eu mudei. Ao menos agora eu podia agradar, não é mesmo? Não! Errado novamente! Impossível agradar quando não te querem por perto.

Quem quer se envolver? Inscreva-se aqui e ganhe um brinde!

sábado, 23 de outubro de 2010

Prelúdio

Ela cambaleia pela noite,
banhando-se na luz brilhante.
Ela rodopia, paira, plana
sobre o vazio infinito.

A inocente criatura dança
relevando sua doçura.
Ela salta, balança, brinca
sob o brilho prateado.

Oh, doce luz inebriante
banhando o seu ser.
Deixe-a desfalecer
em seus braços etéreos.

Embebendo-se no fulgor
do sonho, da luz, da brisa.
Ela se perde na escuridão.
Seus olhos estão velados.
 
Arrastada pela terna ilusão,
de olhos fechados sonha,
deseja, acredita, lança-se
no abismo incerto.

Oh, coração de pedra!
Deixaste-a perder-se
nas mentiras da tua ilusão,
nos abismo dos teus braços.

Ela cai indefesa nas trevas.
Ela perde-se mais e mais,
agora nos devaneios da culpa.
Será a dança? A entrega?

Ela cambaleia pela noite
apoiando-se em braços,
inebriando-se em ilusões,
jogando-se em abismos.

Os olhos antes velados
agora estão enegrecidos.
Eles são como vórtices
da tua perdição.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Fragmentos

        "... já que sou, o jeito é ser.
        Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta, continuarei a escrever. (...) Pensar é um ato. Sentir é um fato.
        Estou fruindo o que existe. Calada, aérea, no meu grande sonho. Como nada entendo - então adiro à vacilante realidade móvel. O real eu atinjo através do sonho."

Trecho de A Hora da Estrela de Clarice Lispector

***

"Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não se vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora."

Trecho de Onde estivestes de noite de Clarice Lispector

***

"Querida, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias." 

Trecho de uma carta de Clarice Lispector a uma amiga

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Xeque-mate

Eu nunca esqueço do que passou. Eu não penso no passado, não deliberadamente, ele me desperta inesperadamente. As vezes algumas lembranças me surpreendem e eu sempre acho graça disso, não das lembranças em si, mas pelo fato de que elas parecem ser muito mais antigas do que na verdade são. Ontem achei graça quando me lembrei de uma época em que eu não conseguia chorar, tudo porque hoje eu choro até sem perceber. Descubro que estou chorando quando me dou conta das lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não penso em chorar, não peço pelas lágrimas, elas simplesmente se libertam independentemente da minha vontade. Há quem diga que esse é um sinal de fraqueza, mas eu prefiro pensar que ainda tenho um músculo pulsante ao invés de um pedra no lado esquerdo do peito. E creio que é exatamente por causa disso, do músculo pulsante vulgo coração, que eu acho graça dessas algumas lembranças recentes que me parecem tão distantes. Eu as percebo distantes porque elas não me causam mais pesar, acho graça porque apesar dos males hoje eu as vejo com ternura. Acho que isso se chama perdão, ou reconciliação, ou quem sabe gratidão, ou até mesmo um misto de tudo isso. Eu choro porque estou feliz, porque o que passou, passou.

A paixão, a decepção, a dor, a culpa, o ressentimento, o sofrimento, a tristeza, a mansidão, o perdão e a gratidão, fazem parte dos conflitos que nos definem com seres humanos. É preciso passar pelo conflito, e a cada dia acredito mais que a vida se resume a uma sucessão de conflitos, cheios de coisas boas e ruins, mas todas essenciais. Tudo isso parece ser uma boa filosofia de auto ajuda, mas eu juro que não li absolutamente nada nesse nível, isso tudo faz parte do que eu vivi e quem sabe também faça parte daquilo que os escritores de auto ajuda também viveram. Ouvi esses dias que a vida, assim como um jogo de xadrez, é apenas uma variação de experiências que já aconteceram, cada jogo sempre tem começos agressivos, meio de jogo paciente e xeque-mate inevitável. Nessa perspectiva podemos considerar a possibilidade de desistir de jogar por estarmos cansados de repetir os mesmos padrões, e também de esperar que um final diferente aconteça. Se a vida é uma coleção de conflitos comuns a todos, que se repetem infinitamente, por que viver? Por que se jogar nas mesmas experiências sabendo dos possíveis finais? Por que tentar novamente? Eu respondo a todas essas perguntas com a seguinte frase: Porque somos nós que controlamos as nossas escolhas, e se estas forem trilhar os mesmos caminhos e seguir os mesmos passos, não poderá ser feita muita coisa para mudar o final inevitável, mas sempre existe a possibilidade de tentar algo novo e inesperado. Depende unicamente de nós sermos simples, porque na vida, as coisas são (e sempre serão), como são. E como já disse Isaac Asimov: "Na vida, diferente do xadrez, o jogo continua depois do xeque-mate."


domingo, 10 de outubro de 2010

Bilhete

Fiquei te olhando enquanto você dormia naquela última noite. Eu queria te guardar para sempre na minha memória. Decorei os traços do teu rosto, o teu sorriso sereno, o contorno dos teus olhos e a nuance dos teus cabelos. Inspirei profundamente para capturar o teu perfume. Por fim, fechei meus olhos para criar uma imagem sua em minha mente, mas me surpreendi com o som da tua respiração. O efeito que me causou foi de uma paz imensa e a certeza de que naquele instante nada poderia me fazer mais feliz do que ter você ali do meu lado. Mas ao abrir meus olhos percebi que nada disso iria acalentar a dor que eu sentiria depois. Comecei a me sentir ridícula por colecionar tais lembranças, e ainda mais por me apegar a coisas tão pequenas e superficiais. Fechei meus olhos com força e comecei a repetir a mim mesma "você precisa esquecer", e assim adormeci. Ao acordar tudo estava lá, igual a antes, exceto pela dor que fulminava o meu peito. A dor inevitável que chegou mais cedo do que eu previa. Me despedi sem te olhar nos olhos porque tinha medo de não conseguir esconder as lágrimas. Deste momento em diante passei a repetir "você precisa esquecer" como uma prece, e não houve um só dia em que eu deixasse de proferir a minha prece...
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"A ironia é uma nova verdade extraída de uma coleção de verdades contraditórias, e ela deve vir acompanhada de uma risada ou um sorriso, caso contrário ela será uma verdade trágica ou completamente falsa."

sábado, 9 de outubro de 2010

Sem tanto motivo, apenas com significado

Busy, busy, busy. Lá vai um post sem motivo, apenas uma seleção de músicas encontradas em momentos aleatórios, mas com significado. Enquanto não encontro minhas próprias palavras...

Sim, essa é a bonitinha do filme 500 dias com ela. Aparentemente ela faz parte da banda She & Him. A música é da banda The miracles e foi gravada em 1962, mas a primeira vez que a ouvi foi pelas vozes dos Beatles.


Essa foi uma cena no último episódio de Glee (gosto não se discute!). Sempre escutei essa música num tom mais animado, uma das minhas versões prediletas sempre foi a da Rita Lee, que a transformou num forró altamente animado. Agora, em tempos de lágrimas e melancolia, essa versão é ironicamente perfeita.


Do filme Nowhere Boy, que conta a história do início da vida de John Lennon, e obviamente dos Beatles. Com relação ao filme, posso dizer que é um bom filme, não digo que é sensacional, mas Beatles é Beatles.


Todos sabemos que John Lennon completaria 70 anos hoje, e como eu já cansei de ouvir Imagine (já faz uns 10 anos, nada contra, só cansei...), escolhi uma das minhas preferidas interpretadas por John Lennon. A música foi escrita e interpretada por Ben E. King, mas como já disse antes, ela chegou aos meus ouvidos pela voz de John.

domingo, 3 de outubro de 2010

Imperfection

Ela não era infinitamente bela, mas possuía uma beleza incomum, que era só dela. Durante toda a noite ela pouco disse, parecia perdida em devaneios. Seu olhar era desinteressado, mas cortês. Nada nela era particularmente atraente, mas ao mesmo tempo era impossível deixar de percebê-la. Ela se beneficiava de uma solidão perfeita que só a presença de uma multidão pode proporcionar. Ela era um enigma. 

Ele fixou o olhar no rosto dela. Começou a pensar sobre quem era ela. Ficou curioso sobre o que a fazia pensar tanto. Ela estaria triste eu simplesmente era indiferente? Tudo o que ela deixou de falar os seus olhos pareciam se encarregar de dizer. Ele teve certeza que não era tristeza, e muito menos indiferença, ela estava intrigada. Então, ele percebeu que os olhos dela sustentavam os dele. 

Ela se levantou e começou a caminhar na direção em que ele se encontrava. Os mínimos gestos dela eram cheios de poesia contida. Ele mal podia respirar ao vê-la se aproximar. Eram tantos os pensamentos em sua mente que no fim ele não conseguia focar em nenhum deles. Ela parou a alguns passos dele, e sorriu. Naquele instante tudo parecia perfeito. Sobre a superfície, tudo nela era perfeito. Tão perfeito que ele teve medo de se aproximar mais. A perfeição assusta!


sábado, 2 de outubro de 2010

Zugzwang

I'm not afraid of dying, I'm afraid I haven't been alive enough.
(Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho medo de que eu não tenha vivido o suficiente.) Mr. Nobody




Vou falar sobre um filme que provavelmente não vai chegar as telas Brasileiras. Esse filme causou sensação na Europa em julho deste ano e as críticas eram que este é um daqueles filmes do tipo "Ame-o ou odei-o". Classificado como Drama, Romance, Fantasia e Ficção Científica, o filme Mr. Nobody possui um bom elenco, roteiro extremamente original, uma fotografia impecável e linda trilha sonora. Obviamente, o meu parecer pendeu mais para o "Ame-o" do que para o "Odei-o", e creio que para todas as pessoas que gostam de um filme que faça pensar, este também será o parecer.

SINOPSE: Nemo Nobody é um homem comum, que leva uma vida também comum ao lado da mulher, Elise, e dos três filhos. Isso até o dia em que, sem a menor explicação, ele acorda no ano de 2092. Nemo está com 118 anos de idade. Agora, além de ser o homem mais velho do mundo, ele é o último mortal de uma nova espécie humana num mundo onde ninguém mais morre. Isso não parece causar interesse particular em Nemo e nem ao menos o aborrece. Mas há algumas coisas que o preocupam: ele viveu uma vida correta? Amou a mulher que deveria amar? Teve os filhos que imaginou ter? Para Nemo, o própósito de sua existência está em encontrar respostas para essas questões.

A sinopse pouco diz sobre o filme, ela basicamente resume os 10 primeiros minutos e tudo a mais que eu venha a dizer sobre o filme só vai estragar as surpresas que este vai lhes proporcionar. Basicamente, o filme fala sobre escolhas. Uma das primeiras frases dele é "Nós não podemos voltar no tempo. Não é fácil escolher. Nós temos que fazer a escolha certa. Enquanto nós não escolhemos tudo ainda é possível." Como escolher? Quais são as boas escolhas? E se eu não tivesse dito aquilo? E se eu não tivesse agido daquela forma? E se eu tivesse feito uma escolha diferente?

Todas as escolhas que fazemos definem os nossos próximos passos, e cada uma delas pode transformar totalmente o futuro. Existem inúmeras possibilidades, mas dependendo da escolha existirá apenas um único caminho a ser percorrido. O que fazer quando todas as escolhas feitas nos levaram a este exato momento, em que a única certeza que temos é que não era assim que queríamos estar? Eu já sei a resposta, não podemos fazer nada. E se eu pudesse mudar as minhas escolhas, mesmo que fosse apenas uma, qual delas eu mudaria? Eu realmente deveria querer mudar alguma coisa?