domingo, 26 de setembro de 2010

Na página 400

"A única fonte de consolo que possuía era a resolução de melhorar sua conduta e a esperança de que, por mais inferior em companhia e alegria que fossem o inverno seguinte e todos os outros, ainda assim esses invernos a encontrariam mais racional, mais consciente de si mesma e deixariam menos tristeza ao irem embora."
Estava lá na página 400 do livro, e foi impossível não sorrir. Na incapacidade de me expressar encontrei lá na página 400 do livro a expressão exata daquilo que estou sentindo. A exatamente um ano atrás eu não podia imaginar que a Renata de hoje se conheceria tanto a mais que naquela época. É engraçado como penso de mim mesma no passado com uma outra pessoa, porque hoje sou uma pessoa muito distante daquela. Eu não mudei, people don't change, hoje eu sou a mesma de antes mas numa versão distorcida da anterior. Jamais podemos mudar quem somos de fato, algumas manias e vícios podem se perder no decorrer da vida, mas a essência de quem somos jamais será transformada.

Aquilo que nos define é indefinível, impossível de ser descrito, eu apenas sei que seja lá o que for isso somente pode ser sutilmente percebido (por nós mesmos) naquilo que nos conduz a agir da maneira que agimos. Não digo somente nas ações, mas naquilo que te impulsiona a olhar nos olhos de alguém e dizer "pode se sentar comigo" sem que você tenha compreendido por quê o fez. Por que fiz isso? Eu não sei, eu só sei que fiz porque naquela hora parecia que era o que deveria ser feito. A situação em si não tem tanta importância, eu só a utilizei para ilustrar a minha própria surpresa quando disse a frase sem ao menos compreender o porquê daquela ação. Sempre existe aquele instante que nos surpreendemos pela maneira que agimos, seja nos pequenos gestos ou em situações de urgência.

Já que não podemos mudar quem somos, podemos ao menos tentar fazer algumas coisas de modo diferente. Se depois de um tempo isso soar natural, isso significa que somos capazes de nos moldar um pouquinho. Eu posso tentar não arrumar a cama toda manhã, mas sempre acabo a arrumando sem perceber num dia ou outro. Da mesma forma posso passar a preparar o café de outra forma e perceber que nunca mais pensei em fazê-lo de outro jeito. Algumas coisas mudam, outras não e algumas mudam de vez em quando. Eu só sei que faz bem se perguntar o porquê das coisas as vezes, mas só faz bem de vez em quando, caso contrário perde a graça. Não seríamos únicos se todos fossemos como livros abertos, com índice, prólogo e considerações finais, a beleza está no mistério que cada um guarda em si mesmo.

O inverno se foi e as tristezas são menores do que aquelas do último inverno. Muito mudou, eu continuo a mesma, mas diferente. O que mais sinto de diferente é a alegria de me sentir mais inteira. Hoje eu me sinto muito mais eu mesma por mais paradoxal que isso possa ser. Sou a mesma pessoa do ano passado, mas sou mais eu mesma hoje. A primavera recomeça com um novo olhar para o mundo, e principalmente um novo olhar de mim mesma.

Spring Sun by Diana Hertz

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